7.11.14

Conto: Noite Ofegante

  

 Olá pessoal! Hoje trago um conto que eu e alguns amigos fizemos de improviso na Biblioteca da nossa escola - CIEP Brizolão 272 Gabriel Joaquim dos Santos.

  Meu corpo estava congelado. Abri meus olhos e senti como se meu coração saltasse pela boca. Uma sensação de medo tomava conta dos meus pensamentos e, por um instante achei que fosse desmaiar.

   Eu estava no topo de uma montanha de gelo. A última coisa de que me lembro foi de ter tomado banho e ido para a cama. Arrepiava-me com a ideia de um sequestro durante a noite. No entanto, fiquei pensativa. Com que intuito uma pessoa me sequestraria, trazendo-me para esse lugar tão medonho e solitário? Eu não sou rica, tampouco importante a ponto de ser vítima de um sequestro. Levantei-me e olhei ao redor, dando conta de que eu ficaria bem feliz em viajar para esse lugar – por vontade própria, é claro.
   – Ei... Alguém. Aí? – gritei e ouvi o eco expandindo-se pelas montanhas.
   Ninguém respondeu e, provavelmente, eu ficaria ainda mais assustada se isso acontecesse. Pior do que estar em uma montanha de gelo sozinha é estar em uma montanha de gelo com um desconhecido. Fechei meus olhos em busca de uma explicação, mas não consegui encontrar nenhuma. Uma vontade de chorar preenchia o meu corpo e eu não consegui conter as lágrimas, elas simplesmente escaparam e o soluço as acompanhou em seguida.
   Quando me virei, fiquei perplexa com o que vi. Era um homem lindo, como eu nunca havia visto. Senti meu corpo sendo tomado por um desejo insaciável, porém preferi manter precaução. Afinal de contas, eu não o conhecia.
   – Quem é você? – perguntei indo em sua direção, mas ele desapareceu como pó.
   Meus olhos se arregalaram e eu estremeci.
   Virei-me mais uma vez e ele estava atrás de mim, com um sorriso fantástico. Ele parecia um anjo, porém não tenho tanta certeza se isso realmente é verdade. Tomei coragem e me aproximei cautelosamente dele e dessa vez ele não se moveu. Passei meus dedos pelo seu rosto e ele sorriu. Seus olhos queimavam como se houvesse chamas e de repente, percebi que estava viajando neles. Fechei meus olhos e quando os abri, estávamos flutuando por sobre as montanhas. Não me sentia mais assustada, pelo contrário, me sentia mais segura do que nunca ao lado dele. Como se tivesse sido enfeitiçada, de repente, uma paixão queimava no meu peito, fazendo-me arfar.
   – Quem é você? – repeti com suavidade.
   – Tudo aquilo que você não deve conhecer – respondeu ele. Sua voz era doce, porém firme.
   – Você é um anjo? – perguntei.
   – Depende do que você considera um anjo. – Ele disse e eu fiquei boquiaberta, aguardando por uma explicação convincente. – Sou um anjo caído.
   Paralisei. Não podia ser verdade. Um anjo caído é o mesmo que... o mesmo que...
   – Um demônio – acrescentou ele e fiquei mais perplexa do que já estava. Rapidamente, vi nele uma criatura horripilante que logo se transformou novamente em um homem. Teria ele meus pensamentos?
   – Eu preciso de você. Eu preciso de você – gritei o mais alto que consegui.
   – Você não pode ficar comigo.
   – Por quê?
   – Não quero que você sofra.
   – Acho que eu mesma sei o que é melhor pra mim.
   – O inferno é o melhor pra você?
   Provavelmente não seria, mas ao lado dele, as chamas seriam um privilégio.
   – Confesse que me ama. Confesse – gritei.
   – Preciso dizer isso?
   Não precisava. Acho que um beijo resumiria isso. E meu corpo ansiava por isso. Eu queria um beijo, eu precisava de um beijo e, ele veio.
   Fechei meus olhos e nossos lábios se encontraram e a sensação foi inacreditável. A paixão era cruel e minha alma gritava por socorro. Sentia o fogo em minhas veias e tudo relaxou de repente. Desmanchei em seguida.
   Abri meus olhos e eu estava completamente suada entre os lençóis da cama. Meu coração estava acelerado. O oxigênio era insuficiente para mim. Sentei-me na cama e comecei a chorar de raiva. Eu queria que aquilo fosse real. Eu precisava vê-lo de novo. Mesmo sem saber seu nome, eu precisava senti-lo junto ao meu corpo. Peguei meu travesseiro e comecei a soca-lo com todas as minhas forças.
   Ainda não havia amanhecido e ao olhar pela janela, o vi ali parado me olhando com desejo. Ele mordia seus lábios com prazer. Levantei-me depressa da cama indo em direção à janela. Ele sumiu e a tristeza voltou a tomar conta de mim.
   Sem aviso prévio, um papel dourado caiu em cima de mim e, ao olhar, estava escrito:

Estarei sempre ao seu lado.

   Um amor doloroso tomou conta de mim e um sorriso torto se formou em meus lábios.



2 comentários:

  1. Parabéns, Keltter! Adoro o seu blog!
    Eliane Ramalho

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  2. Keltter, Maria José, Brena, Karina e Felipe, parabéns pelo texto! Muito bacana ver vocês como leitores da Biblioteca da Escola, mais bacana ainda é vê-los como escritores também.

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